Nesse pedacinho de emoções coloquei poesias de notáveis poetas, escolhendo aquelas que primam, não só pela beleza, mas pelas lições de generosidade, bons sentimentos, valorizando o respeito pelos pais, pela família, do lar e da pátria; a simpatia pelos mais idosos, a compaixão pelos sofredores, a piedade pelos animais- todas as virtudes de um coração bem formado.
São poesias dos melhores autores brasileiros e portugueses, uma reunião de sonetos, poemas, contos em verso.Muitas são poesias antigas, até a década de 50 e são muito apreciadas por estudantes de Literatura. Outras, mais modernas, e repletas de encantamento e grandes lições!
O MEU E O TEU
LUIZ RATISBONE
Entre duas irmãs travou-se uma peleja.
- " Esta boneca é minha!"
- "Não é. É minha só, senão repare e veja.
A sua, por sinal, cabeça já não tinha."
Entraram a puxar. Desfazem-na em farrapos.
Que lhes ficou, depois de tal contestação?
O farelo a cair, de envolta com uns trapos,
cabeça, mãos e pés esparramados pelo chão...
Cessando de lutar,
vendo a boneca, assim, desataram a chorar.
Por mim, não sei de quem a linda prenda fosse:
sei só que o teu e meu causaram seu destroço.
Meus filhos, não digais: é meu! dize: é nosso!
Além de ser bonito, é útil e mais doce.
Chega Lulu do colégio,
rubro do sol, como um cardo;
calça o boné de brim pardo,
blusa do mesmo protege-.o.
Entra, e nuns braços se some,
deixando, os livros na mesa.
Voltara em fraldas...( Surpresa!)
Senta-se, e diz: - "Ai! que fome!"
E janta. O velho rafeiro
vem festejá-lo, cm o cheiro...
Lambe-o na face o gatinho...
A mãe, que os pratos ajunta,
aberto o livro, pergunta:
-Que lição trazes, filhinho?"
Repica o sino na matriz da vila,
como em dia de gala.
São dez horas somente. O sol rutila.
Faísca o espelho de cristal da sala.
A pêndula palpita,
compassada e monótona.
Singelo, numa gaiola, elétrico, saltita
um canário amarelo.
São dez horas. Erguidas,
as persianas deixam ver, distantes,
das árvores floridas
as frondes vicejantes.
Sutil essência de magnólia e rosa
repassa o ambiente...
E a mãe a ler ensina,
sorrindo carinhosa
a loura filha, ingênua e pequenina...
Abre-se a porta, e o bando de inocentes,
louras crianças, que a esperança embala,
com rumor festival invade a sala,
ao som de risos, gritos estridentes.
E os anjos saltam, brincam sorridentes,
saudando a note de divina gala.
A árvore sagrada em torno exala
perfume e luz, repleta de presentes.
Soam trombetas, rufos de tambores,
defronte do presépio em que o Menino
Jesus sorri, mimoso, entre esplendores.
Fulge mais luz no quadro peregrino.
Assoma aos olhos dos progenitores,
pranto de amor, brilhantes e cristalinos.
Há uma deusa cristã sem liturgia,
toda cheia de amor e de bondade,
feita da alma celeste de Maria,
anjo da guarda à pobre Humanidade.
Não tem pátria, nem lar, nem preconceitos:
tanto atende aos mais vis, como aos mais nobres;
vela e protege abandonados leitos;
e pede aos ricos para dar aos pobres.
Anda pelas prisões; pelos hospícios;
só sabe perdoar; só tem afagos;
tem compaixão dos crimes e dos vícios;
e repara as ruínas e os estragos.
Dando esperanças aos desamparados,
poe da desgraça os lêmures em fuga;
e, quando vê chorar os desgraçados,
por eles chora, e o pranto lhes enxuga.
Esta deusa cristã, sem liturgia,
toda cheia de amor e de bondade,
feita da alma celeste de Maria,
és tu, és tu, ó Santa Caridade!
C R O M O
B. LOPES
Na alcova sombria e quente,
(pobre demais, se não erro)
repousa um moço doente,
sobre uma cama de ferro.
Pede-lhe, baixo, inclinada,
sua mulher, que adormeça,
em cuja perna curvada,
ele reclina a cabeça.
Vem uma loura figura,
com a colher da tintura,
que ele recusa num ai.
Mas, o solicito anjinho,
diz-lhe, com riso e carinho:
-" Bebe, que é doce, papai!"
Conselhos Paternos
Visconde da Pedra Branca
Põe na virtude,
filha querida,
de tua vida
todo o primor,
não dês à sorte,
que tanto ilude,
nem a virtude,
algum valor.
Tudo perece;
murcha a beleza;
foge a riqueza;
esfria amor;
mas a virtude
zomba da sorte,
e até da morte
disfarça o horror!
Brilha a virtude
na vida pura,
qual na espessura
do lírio a cor.
Cultiva, atenta,
filha mimosa, sempre viçosa
tão linda flor.
DAI AO POBRE
João de Lemos
Dai, minhas filhas! Aos pobres
esmolas dai.
Por vosso brazão, mais nobre,
esse tomai.
Enquanto fordes na vida,
esta seja a mais querida
lição de pai...
Cuidados com os pequeninos!
revela-se neles - Deus;
as suas falas são hinos,
aprendidos lá nos céus.
Não há nada mais doces encantos,
não ha nada mais gentil,
a aurora deu-lhes os prantos,
os risos deu-lhos abril.
São anjos do paraíso,
luzeiros na cerração;
amor - exprime seu riso,
seus beijos dizem - perdão!
Aquele olhar, que sinto em mim fixado,
inquieto, indagador, tem tal ternura,
que, mais o vejo, mais se me afigura
ver dentro escrito nele o meu passado.
Nasceu quando eu nasci. Foi, ao meu lado,
naquela suavíssima doçura,
como estrela a guiar-me em noite escura,
e sempre meu abrigo,eu seu cuidado.
Olhar de minha mãe, tão casto e santo,
se me fojes, às vezes, é que o pranto,
quando sofro, ocultar-me tu desejas...
Então,sorris, chorando...Uma tormenta,
à luz do sol...Olhar que me sustenta,
olhar de minha mãe, bendito sejas!
Soares de Souza Junior
lendo o episódio da leoa brava,
que, sedenta e famélica bradava,
vagando pelas ruas de Florença.
Foge a população espavorida...
E, na cidade, deplorável e erma,
topa a leoa só, quase sem vida,
uma infeliz mulher débil e enferma.
Em frente à fera, no estupor do assombro,
não já por si tremia ela - a mesquinha-
porém era mãe, e o peso tinha,
sempre caro para as mães, de um filho a ombro.
Cegava-o o pranto! Enlouqueci-a o choro!
desvairava-a o pavor!...E, entanto, o lindo,
tenro infante, pequenino e louro,
placido, estava nos seus braços, rindo.
E, olhar desfeito em pérolas celestes,
orava a mãe no animal, que para e hesita,
aquele olhar de súplica infinita,
que é só próprio das mães em transes destes.
Mas a leoa, como se entendesse,
o amor da mãe, incólume deixou-a...
...É que esse amor até nas feras vê-se!
É que era mãe, talvez, essa leoa!
Honório Monteiro
O amor, que embala rindo a criancinha loura,
que dorme, brandamente aconchegada ao seio,
como, em leito de arminho, enrubecida aurora,
amor, todo esperança, amor, todo receio,
amor, todo esperança, amor, todo receio,
amor, que não tem fim, amor, grande e fecundo,
que é forte como o cedro e frágil como a flor,
que tem por pátria o céu, e tem por berço o mundo:
é esse amor de mãe, abençoado amor!
Antonio de Azevedo Castello Branco
Fumega ao longe a secular aldeia,
por grandes castanheiras circundada;
numa extensa planície arborizada,
um cristalino córrego serpeia.
Dentre o milho, que ao vento balanceia,
vem regressando à rústica morada
lavrador, de vida afadigada,
como a abelha, que vai para a colmeia.
Os seus filhos conduzem aos currais,
com ruidosa, salvática alegria,
as vacas que pastavam nos prados.
Todos juntos no lar - filhos e pais-
dão graças ao Senho, no fim do dia,
e rezam pelas almas dos passados...
A LAGARTIXA
(Da Costa e Silva)
A um só tempo indolente e inquieta, a lagartixa,
Uma réstia de sol buscando a que se aqueça,
À carícia da luz toda estremece e espicha
O pescoço, empinando a indecisa cabeça.
.
Ei-la aquecendo ao sol; mas de repente a bicha
Desatina a correr, sem que a rumo obedeça,
Rápida num rumor de folha que cochicha
Ao vento, pelo chão, numa floresta espessa.
.
Traça uma reta, e pára; e a cabeça abalando,
Olha aqui, olha ali; corre de novo em frente
E outra vez, pára, a erguer a cabeça, espreitando…
.
Mal um inseto vê, detém-se de repente,
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
se saio correndo ou fico tranqüilo.
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